terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Desejos e mentiras

Há diversos vícios como virtudes. A política no Brasil caracteriza-se por reunir mais aqueles que estas. Quando me refiro a política estou falando do campo político como um todo - Estado, governo e instituições políticas. O vício da mentira é intrínseco a ela. Deveria ser objeto da psicologia social, não soubesse que têm outras prioridades não menos importantes.

De fato, a academia, conforme a sua vocação essencial, cumpre além práxis científica - verdade universal - subsidiar de um lado as deficiências do Estado e de outro atender as necessidades da sociedade - o saber e a política são produtos coletivos. A combinação de esforços entre setores intelectuais acadêmicos e governos produzem resultados expressivos em termos de políticas publicas efetivas para o aumento da qualidade de vida e da administração publica.Verificam-se avanços significativos em quase todos os setores: educação, segurança publica, saúde, cultura, geração de trabalho e renda. Há quem acredite nisso e até que dia 21 o mundo acabará. Não é o que eu vejo pelas ruas e universidades. 

Chega-se ao absurdo de se debater as ideias de Paulo Freire desvinculadas da política - alienação, ignorância  leniência? Pobre Paulo Freire, lutou a vida inteira pela educação para agora assistirmos a sua luta servir a interesses diversos e até mesmo incompatíveis com o socialismo e humanismo que caracterizaram toda a sua trajetória de intelectual militante de esquerda! Educação dialógica, educador democrático e pedagogia libertadora não passam de teorias e conceitos como quaisquer outros! Como se fosse possível desvinculá-los - esses conceitos - da esfera política e fossem meros patrimônios do pensamento acadêmico e suas elites ilustradas! Típico da burguesia que desconhece a ética e escrúpulos  fazendo uso arbitrário de toda e qualquer teoria ou ideia e ideais de acordo com os seus interesses e as conveniências. 

Ontem celebrou-se o Dia dos Direitos Humanos. Celebrações virtuais pelas redes sociais. Impressiona a quantidade de altruístas, abnegados, cidadãos, burgueses revoltados e revolucionários pelas redes sociais! As redes sociais tornaram-se o campo de luta (?) e o espaço de formação, socialização e debate de uma esquerda cada vez mais indolente, cínica e paradoxalmente, elitista. São diversas as comunidades - comungam o que? -, os grupos - agrupamento sem caráter coletivo ou social - e os debates absolutamente simplórios e superficiais, protegidos pelo anonimato, a segurança e o conforto do lar. Que houve com a rua? Demasiada perigosa, desconfortável, contraditória. Como é possível ser solidário com o MST, por exemplo, sem nunca ir a um acampamento? No admirável mundo novo globalizado  pode-se, inclusive pegando umas ondas na Austrália - como pude ver no FB de uma galerinha en-ganjada da PUC/SP (o cara discursava em apoio ao MST posando em uma praia na Austrália)! 

E o povo? Que houve com o povo? Outra realidade, linguagem, valores incompatíveis com os anseios, pretensões e visão de mundo da redentora classe media. Como são depravados, cínicos, hipócritas e pedantes. Revelam-se nos hábitos, gostos, nos modos contidos e na arrogância do olhar - vulgares, afetados, enfadonhos. No discurso suave e encantador - a sereia que conduz para o naufrágio. No carinho pueril, na atenção dissimulada, na discreta soberba, na sedução e gosto medíocre. Impressiona como o seu discurso sedutor encanta aqueles que um dia pertenceram as classe subordinadas. Cooptados pelo modo de vida burguês, assimilam os seus hábitos, valores, ideias, ideais e gostos. Vitoriosos e arrogantes, conforme os padrões da burguesia, não aceitam critica e tampouco fazem-na. Antigamente chamavam-se traidores. Como podem pretender representar ou vislumbrar os desejos e necessidades e, mais ainda, formar o povo se são incapazes de proceder crítica de qualquer espécie - porque aquilo que pensam como crítica não vai além da superfície e aparência. Incapazes de penetrar as determinações que condicionam a realidade - por conveniência ou alienação. A sua noção indigente de critica é incluir. Incluir os excluídos: eis o supra summum do discurso revolucionário e justiça social! Inclui-los em um modelo de sociedade essencialmente injusto, desigual, explorador e autoritário! Porque a luta de classes é uma realidade, é intrínseco ao capital a miséria, impossível administrar a barbárie e é imperativo não aceitar e/ou resignar-se com o fatalismo cínico que estabelece a hegemonia. 

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